quinta-feira, 1 de março de 2012

Não


O resto de cerveja que ficou na garrafa porque eu não aguentava mais beber.
O cachecol que foi esquecido e deixado pra trás naquela viagem.
A carta que escrevi e nunca mandei.
O perdão que nunca pedi.
A declaração de amor que nunca fiz.
Os sonhos que deixei pra lá.
A raiva que eu contive.
O desejo que eu contive.
O medo que me dominou.
Os livros que não terminei de ler.
Os poemas que não terminei de escrever.
As bandas de rock que nunca tive.
O violão que nunca toquei.
A torneira que eu nunca concertei.
A mulher interessante que eu olhei de longe. E só.
A festa em que eu não fui porque tinha de trabalhar no dia seguinte.
A festa em que eu saí mais cedo porque tinha de trabalhar no dia seguinte.
As pessoas que eu nunca beijei.
As pessoas que eu nunca comi.
O amor que eu fingi.
O favor que fiz com má vontade.
Os favores que nunca agradeci.
O dinheiro que me roubaram.
O tempo de vida que me roubaram.
O suicídio que não cometi.
O homem que eu deixei de ser.
O homem que eu aceitei ser.
A briga da qual fugi.
A doença que não mediquei.
Os amigos que abandonei.
Os amigos que não tive.
Todas as noites em que dormi.
A droga que eu não tomei.
A roupa que não comprei.
O mergulho que não dei.
O salto de pára-quedas do qual desisti.


Os filhos que eu nunca terei.


Às vezes eu perco tanto a identidade que me sinto mais o que deixei de ser do que aquilo que acabei me tornando.

Nenhum comentário:

Postar um comentário