quinta-feira, 22 de março de 2012

A morte da fantasia







Essa semana me mostraram a tirinha acima. Não é oficial, foi feita por um fã. Ou um anti-fã, porque tão logo a li, me senti extremamente irritado, ultrajado e agredido.

Pode parecer bobagem, mas tenho visto muito desse tipo de coisa e tenho me chateado.
De repente parece que nos tornamos tão cínicos, tão incrédulos que recusamos toda e qualquer forma de fantasia. Temos nos apegado tanto ao que faz sentido, ao que tem coerência, ao palpável que estamos nos tornando amargos, sem graça, desprovidos da capacidade de aceitar o sonho. Aquilo que é implausível, aquilo que é do reino da imaginação está sendo relegado ao campo do pueril, perdendo importância, perdendo viço.

É fácil perceber isso de forma mais clara no entretenimento. Um super-herói que usa máscara de morcego precisou ser explicado, esmiuçado, tornado muito mais sinistro e soturno do que já era pra que a gente acreditasse que ele fosse possível.
Os contos de fadas ganham milhões de versões que, se não parodiam, buscam desmistificar totalmente as histórias, trazendo-as pras limitações e defeitos da realidade.

Pra que?

A realidade já não é real o suficiente? A vida já não é dura, complexa e sacal o bastante? É preciso esvaziar também a fantasia? Extirpar dela toda a linda e poética falta de sentido? Tirar exatamente o elemento que a tornava atrativa, aquilo que justamente nos ajudava a ficar um pouco distantes da realidade?

Acho isso um desfavor. Quase um crime. Matar dessa forma toda a inocência, toda a beleza, toda a capacidade de usufruir do cérebro pra desanuviar do peso do mundo, das responsabilidades, das brigas, das contas, da rotina e uns dos outros.
Tenho muito medo do dia em que tornaremos tão blasés, incrédulos e secos que nada mais seja capaz de nos encantar. Tenho medo de que essa crueza, essa desconfiança, esse frio nos arrefeça até que não seja possível, por qualquer via, buscar paz de espírito.  Até que não haja mais leveza alguma. Escapismo nenhum ao qual recorrer.

Parem com essa obsessão, com esse fetiche pelo real. Fantasiem um pouco, viagem na maionese. Sejam mais leves, permitam-se ser felizes.
Ou morram todos e livrem o mundo dessas suas presencinhas vazias, blasés e escrotas.

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