quinta-feira, 1 de março de 2012

Fetiche

Nem todo fetichista é um artista. Mas todo artista é um fetichista. 
A propensão artística pressupõe uma necessidade visceral, intrínseca, de exibir-se. De expor-se. 
Quando um artista cria um quadro, uma música, um texto, quando atua, ele busca uma forma de expressar algo que existe dentro dele. Algum sentimento que lhe falta ou que lhe sobra e que lhe é impossível conter. Um sentimento qualquer que lhe cause angústia ou euforia e que, seja de que natureza for, lhe obriga à exposição, à submissão do conhecimento do maior número de pessoas possível. 
A manifestação artística criada tem de ser mostrada. Tem de buscar atingir alguém. Tem de buscar correspondência. 
É essa sede, essa busca por reconhecimento, esse anseio insaciável o que move, o que inspira o criador. 
O texto tem de ser lido. O quadro tem de ser visto. A música tem de ser ouvida. A peça tem de ser assistida. Tem de buscar seu público, encontrar quem se identifique, quem se deixe tocar pela mensagem, quem sinta correspondência com ela. 
Antes disso não existe nada. O artista sozinho é nada. O rascunho guardado na gaveta é só um estudo, jamais uma obra de arte. Jamais uma manifestação. Somente um fetiche calado.

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