quinta-feira, 1 de março de 2012

Ideologialismo



Hoje, à caminho do trabalho, vi uma pichação no muro que dizia: “Seja vegetariano!”
Fiquei instantaneamente puto. 
O tempo todo e em todo lugar as pessoas tentam (deliberadamente ou não) nos catequizar e nos fazer sentir culpa por querer usufruir das poucas coisas realmente agradáveis da vida.
São evangélicos tentando convencer as pessoas a dedicar suas vidas ao deus invisível deles. Espíritas querendo vender a idéia de que é preciso ser caridoso e parcimonioso em tudo. Socialistas querendo fazer crer que o prazer de perder algumas horas num shopping seja o maior mal do mundo. O Papa tentando propagar que trepar antes do casamento seja o maior mal do mundo. Os ambientalistas uniformizados pelas ruas lastimando o fato de que a bituca de cigarro que eu dispenso na calçada faz um tremendo mal ao mundo! 
E agora, como se não bastasse, os veganos e vegetarianos começaram sua campanha pra tentar fazer crer que o prazer inigualável de ingerir aquela picanha suculenta, quase crua, seja também um mal pro mundo.


Pois eu vou dizer: QUERO QUE SE FODA!


Quero que as baleias todas morram encalhadas, que o mar se entupa de petróleo, que o clima degringole. Quero que um monte de gente morra na guerra, no tsunami ou no olho do furacão. Quero mais é ver os urubus se empanturrando com o cadáver do bebê etíope, quero respirar fumaça, deixar o cego parado do outro lado da rua, quero roubar o assento preferencial da velhinha e quero chutar a bengala do aleijado.


Eu quero comer carne. E carne de cachorro, carne de paca, de mico-leão dourado que é pra ver ecologistas urrando de desgosto.
A vida já é chata e cansativa demais sem a mídia bozinando na orelha que tudo o que gostoso é impróprio. A vida já é uma merda sem que se tenha de sentir culpa  por tudo o que dá prazer. A vida é muito curta e as pessoas abdicam muito facilmente de uma vida melhor, em prol de um mundo melhor.
Um mundo melhor não tem qualquer valia se o preço disso for uma vida meia-boca, uma existência morna, comedida e compartimentada. 
A mim, tudo parece muito claro.  As pessoas estão tão vazias, tão solitárias e sem propósito. Tão seguras e amparadas pela sociedade e pela tecnologia que não têm mais nada o que defender. Não têm mais que caçar a carne do almoço nem plantar por conta própria o alimento dos seus. Não têm mais que brigar pela própria vida. Não têm mais pelo que lutar.
Daí tudo vira uma questão ideológica.
Até gostar de gente do mesmo sexo virou questão ideológica. Pretexto pra levantar bandeira. (Daqui a pouco vai ter até partido político!)


É que as pessoas insistem em se apegar à idéia de que somos mais que meros animais. De que somos dotados de espírito. De que há significado por trás de tudo e a humanidade está traçando o caminho da evolução.
Essa crença, legitima a idéia da vida regrada, comedida. Dá suporte à negação da nossa animalidade. Dá esperança de que a morte não seja o fim de tudo.
Mas é!
E quando tudo acabar e a velhice e a doença fizerem seu corpo fenecer, tanto faz se você foi um estuprador, um intelectual influente ou um vendedor de peixe na feira. Você vai morrer e deixar de existir. Sem luz cálida e acolhedora. Sem limbo ou julgamento de virtudes. Sem possibilidade de espiação.
Quando tudo acabar, acabará sua consciência, seus conceitos morais, suas crenças religiosas, todas as histórias de vida das quais se orgulha e até aquela piada genial que você passou a vida repetindo. Tudo vai desaparecer.
O que acha que te define, que te individualiza, o que você acha que te agrega valor como ser humano, tudo de repente vai fazer “PUF”.
E depois nada.
Porque não existe deus. Não existe significados sagrados nas coisas. Não existe “certo” ou “errado”.
Tudo o que somos vai acabar da mesma forma: com um monte de vermes e bactérias nos comendo de dentro pra fora.
Ou talvez eu esteja completamente equivocado e toda essa prosopopéia seja só porque o trabalho venha me deixando pouco tempo pra trepar e eu esteja num tremendo mau humor. 

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